Geometrias afetivas

Jáder Santana


Aos pés do Seminário Diocesano São José, no Crato, três pirâmides de aço vigiam a Chapada do Araripe, atraem os olhares da cidade que se desdobra pelo Vale do Cariri e sinalizam que aquele é o pedaço de terra que viu crescer Sérvulo Esmeraldo. Distante alguns quilômetros, com acesso por estrada de terra, permanece de pé o casarão onde se descobriu artista. Foi no sótão de casa que começou a criar.


Aos 87 anos, Sérvulo voltou ao Crato para assistir à inauguração daquela que considera sua exposição mais importante. São 58 peças que cobrem as mais de seis décadas de trajetória do artista e uma série inédita de 21 desenhos que celebram a geografia que o inspirou em seus primeiros anos. Reunidas sob o título A Linha, a Luz, o Crato, a exposição ocupa, além da encosta do Seminário, vários espaços do Campus Pimenta da Universidade Regional do Cariri (Urca).

“É uma homenagem do artista à sua cidade natal. Ao Crato que lhe mostrou a luz, que lhe despertou para o movimento, que lhe revelou a importância da linha no desenho do horizonte”, escreveu Dodora Guimarães, curadora da exposição e esposa de Sérvulo, no catálogo que será lançado na próxima sexta-feira, dia 28. O material traz imagens de todas as obras expostas além de textos do pesquisador Gilmar de Carvalho e do arquiteto Romeu Duarte.

Mas não foi só o Crato que resolveu celebrar a genialidade de Sérvulo em 2016. Em Belo Horizonte, a galeria Murilo Castro acabou de encerrar uma exposição individual do cearense, enquanto a tradicional feira Frieze, de Londres, apresentou peças de sua coleção de Excitáveis e desenhos produzidos entre 1965 e 1975. No final de novembro, 80 obras da fase europeia de Sérvulo serão exibidas em Basel, na Suíça, na casa de leilões Beurret & Bailly.

2016 também trouxe para Sérvulo o Prêmio Marcantonio Vilaça, divulgado no início do mês e outorgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) a artistas plásticos que promovem em suas obras a interação com o universo industrial. “Sérvulo é um artista fundamental para a arte contemporânea brasileira. Ele estabelece essa estética cinética e brinca com vários materiais, buscando inovação e perturbação dentro de um sistema tradicional”, justifica Marcus Lontra, curador do Prêmio.

Em suas casa-ateliê em Fortaleza, Sérvulo vem se recuperando dos problemas de saúde que enfrentou no início do ano. Sob os olhares cuidadosos de Dodora -que mantém a casa como um santuário das artes cinéticas e exatas -, Sérvulo recebeu nossa equipe. Com um fundo musical que passeava por Bethânia, Chico e Nara, falou sobre as exposições e rabiscou folhas em branco com suas formas fantásticas. Quando conversávamos sobre a coerência de sua trajetória e a força de seus temas, sussurrou que “forte mesmo é a cachaça”.

- E a cachaça do Crato, é boa?

- Deve ser.


SÉRVULO PELO MUNDO

A Linha, a Luz, o Crato

58 peças expostas na Universidade Regional do Cariri (Urca) e na Encosta do Seminário, no Crato.

Individual na galeria Murilo Castro, em Belo Horizonte (MG).

Feira Frieze, em Londres: Exposição de peças de sua coleção de Excitáveis e desenhos produzidos na década de 1960 e 1970.

Exposição na casa de leilões Beurret & Bailly, em Basel, na Suíça: Reúne obras de sua fase europeia.

Prêmio Marcantônio Vilaça 2016, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).



SERVIÇO

Exposição A Linha, a Luz, o Crato

Quando: até o dia 31 deste mês (lançamento do catálogo no dia 28)
Onde: Campus Pimenta da Universidade Regional do Cariri (Urca) no município do Crato

Gratuito

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